quarta-feira, novembro 09, 2005

Sereia

Era Assim

Tinha a pele que era algo que nao era nem branco nem cor nenhuma , era luz ,
era algo que estava no ar ,
sentia-se mas nao sabia ao certo se podia-se tocar.
Na cabeca nao haviam cabelos como os mortais ,
carregava sim correntes de ervas trancadas e regadas com mel e areia , o que lhes dava uma textura parecida com nuvem pesada de chuva no final de uma tarde quente.
Seus olhos eu nao vi , mas senti me fitarem,
E pensei por um instante que fosse ali mesmo morrer
Na presenca daquele ser,
Que me acariciava os labios e a alma.
era frio e suor,
era sono e excitacao ao mesmo tempo ,
era agua e era vento ,
era vontade de trabalhar em fim de semana de ferias,
era tanto e tudo que eu nao sabia
era meus livros ,minha breve historia ,
minha pouca sapiencia e minha fraca poesia.

E eu me perdia no meio dela , como quem se perde no seu prorpio quarto escuro,
sabia exatamente onde estava cada coisa ,
cada parte do seu corpo
e sabia com que firmeza ou delicadeza tocar
mas nao podia.
Eu tentava e ela fugia
E talvez por isso fosse tao bom ,
era sentir o gosto da boca Escorrendo por entre as maos ,
e o aroma das coxas
Se esfregando no meu colchao.

Cada vez que respirava ,fazia rodar minha cabeca
E apoiava no seu colo de luz,
E cantava para eu dormir
E sonhar com mais um regresso para o paraiso
que era sua companhia.
E eu chorava de saudade cada vez que adormecia.



Vina Schneider

sábado, novembro 05, 2005

Para Dois

Pra nao Dizer que nao Falhei das Rosas...
E com todas as outras cores.

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Esse texto eu recebi da Jaque sampin , uma pessoa muito maior do que julga os olhos de quem a ve sempre na altura de seus ombros (ou mais baixo ainda , pros da minha estatura),  Mesmo pra quem so’ a ve por meio de fotos e memorias  .
Voce um dia vai ser Grande Jaque  .Talento e’ o que voce tem de sobra.

====conpaneros y conpaneras , con la palabra el senor Eduardo Galeano:


O DIREITO DE SONHAREduardo Galeano
Tente adivinhar como será o mundo depois do ano 2000. Temos apenas uma única certeza: se estivermos vivos, teremos virado gente do século passado. Pior ainda, gente do milênio passado.
Sonhar não faz parte dos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas, se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior parte dos direitos morreria de sede.
Deliremos, pois, por um instante. O mundo, que hoje está de pernas para o ar, vai ter de novo os pés no chão.
Nas ruas e avenidas, carros vão ser atropelados por cachorros.
O ar será puro, sem o veneno dos canos de descarga, e vai existir apenas a contaminação que emana dos medos humanos e das humanas paixões.
O povo não será guiado pelos carros, nem programado pelo computador, nem comprado pelo supermercado, nem visto pela TV.
A TV vai deixar de ser o mais importante membro da família, para ser tratada como um ferro de passar ou uma máquina de lavar roupas.
Vamos trabalhar para viver, em vez de viver para trabalhar.
Em nenhum país do mundo os jovens vão ser presos por contestar o serviço militar. Serão encarcerados apenas os quiserem se alistar.
Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem de qualidade de vida a quantidade de coisas.
Os cozinheiros não vão mais acreditar que as lagostas gostam de ser servidas vivas.
Os historiadores não vão mais acreditar que os países gostem de ser invadidos.
Os políticos não vão mais acreditar que os pobres gostem de encher a barriga de promessas.
O mundo não vai estar mais em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza. E a indústria militar não vai ter outra saída senão declarar falência, para sempre.
Ninguém vai morrer de fome, porque não haverá ninguém morrendo de indigestão.
Os meninos de rua não vão ser tratados como se fossem lixo, porque não vão existir meninos de rua.
Os meninos ricos não vão ser tratados como se fossem dinheiro, porque não vão existir meninos ricos.
A educação não vai ser um privilégio de quem pode pagar por ela.
A polícia não vai ser a maldição de quem não pode comprá-la.
Justiça e liberdade, gêmeas siamesas condenadas a viver separadas, vão estar de novo unidas, bem juntinhas, ombro a ombro.
Uma mulher - negra - vai ser presidente do Brasil, e outra - negra - vai ser presidente dos Estados Unidos. Uma mulher indígena vai governar a Guatemala e outra, o Peru.
Na Argentina, as loucas da Praça de Maio vão virar exemplo de sanidade mental, porque se negaram a esquecer, em tempos de amnésia obrigatória.
A Santa Madre Igreja vai corrigir alguns erros das Tábuas de Moisés. O sexto mandamento vai ordenar: "Festejarás o corpo". E o nono, que desconfia do desejo, vai declará-lo sacro.
A Igreja vai ditar ainda um décimo-primeiro mandamento, do qual o Senhor se esqueceu: "Amarás a natureza, da qual fazes parte".
Todos os penitentes vão virar celebrantes, e não vai haver noite que não seja vivida como se fosse a última, nem dia que não seja vivido como se fosse o primeiro.